12.12.2008

Passos Coelho = Obama português?

Aquando das últimas eleições para a presidência do PSD, pensei que a haver "perigo" para a esquerda, era Manuela Ferreira Leite. Com experiência governativa e postura thatcheriana de que os portugueses ainda têm memória, perfil discreto mas impositivo, pareceu-me que partia com larga vantagem. E ganhou. Mas desse embate talvez se lembrem deste jovem, Pedro Passos Coelho, 44 anos e licenciado em Economia pela Lusíada. Obama frequentou Ciências Políticas e Direito e tem 47 anos. Partilham os factos de serem do signo Leão, terem-se ambos defrontado dentro dos respectivos partidos contra uma mulher e dos seus adversários insistirem na inexperiência governativa. No caso de Obama isso revelou-se não ser determinante.

Quanto ao facto de serem políticamente antagónicos, isso é uma minudência e não interessa nada para aqui. Passemos então a uma constatação evidente, Pedro não é preto. Isso não quer dizer que não faça parte de uma minoria, no caso, a dos branquelas betos a atirar para o louro. Poder-se-ia dizer que é um exemplar ariano, mas isso seria politicamente incorrecto. Como no caso de Obama, nem eles nem os rivais tocam no assunto, isto é, a raça é algo que permanece subliminar, sem ser nunca pronunciado, mas obviamente omnipresente. Depois temos de assumir que o moço é cheio de charme, atrevo-me, mais do que o Sócrates. Mas é preciso mais do que uma carinha laroca e Pedro tem disso consciência (apesar de saber que a carinha ajuda), revela bons dotes de oratória, um discurso coerente, que precisa de ser trabalhado, mas uma boa base moldável. E, sinceramente, não me parece oco nem estúpido. Uma grande vantagem, que é equiparável a Obama, é que se sabe pouco acerca dele e nunca nada ligado a escândalos. Simon Critchley considera que as massas aderiram a Obama porque ele é de alguma forma opaco, enigmático. É como um ecrã branco onde cada um projecta o que quer ver. Esta descrição é genial e absolutamente certeira, mas terá o menino Pedrinho a mesma capacidade?

Quanto à vida política de cada um , sabemos que Obama foi líder comunitário e professor de direito constitucional, eleito para o senador de Illinois e mais tarde para o Senado dos EUA pelo mesmo estado. Pedro Passos Coelho foi líder da JSD, deputado na Assembleia da República pelo PSD, candidato à Presidência da Câmara Municial da Amadora, vereador na mesma edilidade, ocupando actualmente o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, cidade onde se instalou a sua família ao voltar de Angola.

Engane-se quem pensa que por ter perdido as eleições no seio social-democrata, ele esteja momentâneamente fora de jogo. Pelo contrário, mantém-se activo a pensar Portugal, como atesta a plataforma de reflexão política criada por Pedro Passos Coelho, "Construir Ideias", que promoveu um jantar/debate sobre a crise internacional, tendo como convidados João Salgueiro e Daniel Bessa, estando outros já agendados. O debate foi transmitido em directo por vários blogues e essa novidade é extremamente importante. Como bem refere Paulo Querido, o Pedro precisa de alavancar apoios nas novas gerações, sendo a internet um veículo obrigatório. Se fosse eu, rodeava-me de um excelente staff, uma equipa jovem, dinâmica e leal e apurava o instinto político que ele me parece já ter. Concentrava-me nas bases mas, sobretudo, nos jovens e nas virtuais redes sociais, esperando que adviesse um efeito multiplicador e agregador. Pensaria ser uma solução para o país, mais do que para o PSD. Optaria por um discurso positivo e entusiasmante, um yes we can que os portugueses compreendessem e alinhassem, sem tapar o sol com a peneira, dado que são essenciais reformas. Aqui piscaria o olho ao centro-esquerda, ao não descurar medidas de política social.

Outro dado que pode ser aqui relevante é que cada vez maior número de eleitores se sente desmotivado e descrente dos partidos do costume. Isso pode explicar o elevado número de novos movimentos cívicos com aspiração a partidos, assentes em valores de transparência, mérito, responsabilidade cívica e social, etc... Leva a crer que os portugueses começam a ficar muito cansados dos partidos e políticos que têm e isso abre uma brecha para o surgimento de alguém novo, jovem, diferente, impoluto e capaz de mobilizar massas.

Neste momento a batata quente está do lado da líder do PSD, que tem feito a figura que se sabe. É um chorrilho de disparates, que ecoam sem fim na comunicação social e desgatam a sua imagem. Pedro Passos Coelho está por isso atento e à espreita. Se capitalizar as vantagens que possui e souber apanhar a "maré Obama", é provável que se ouça falar dele, e muito.


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