3.27.2008

O que é feito da ovelha negra?

Veio-me outro dia uma ideia alucinada para um conto, a reformulação da história infantil do Lobo Mau que, neste novo lifting, seria vegetariano por remorsos de ter comido a ovelha negra do PSR. O conto ainda não saiu, mas fiquei a remoer o que seria feito do Partido Socialista Revolucionário. Para quem não saiba ou não se lembre, mas à malta da minha geração provavelmente diz qualquer coisa, na década de 90 era muito mais cool ser simpatizante do PSR do que hoje em dia qualquer das forças partidárias existentes, Bloco de Esquerda incluído. E porquê? Porque era de esquerda quando a direita governava, e, essencialmente, porque era do CONTRA. Sendo que a JCP também era fixe e o festival AVANTE muito apreciado, mas os dogmas eram sagrados e não se podiam levantar assim tantas questões sem se ser olhado de lado "esta gaja tá armada em reaccionária ou quê? Camarada, vá lá ler mais umas coisinhas para se elucidar!"
O PSR teve o mérito de agarrar estas franjas de juventude inquieta e pouco dada a verdades inquestionáveis. Sendo poucos os meios, era grande a criatividade, desde logo, pela reintrodução das pinturas murais como forma de propaganda política, que tinha entrado em desuso.
O que defendia o PSR, de uma forma simples, eficaz e altamente sedutora aos adolescentes? Coisas simples como a legalização do aborto, o fim da tropa obrigatória e da reforma educativa da altura. A tolerância era uma máxima, a paz um direito. Anti-racistas e anti-xenófobos, foram, que me lembre, a primeira força política a reinvindicar igualdade de direitos para homossexuais.
Nas legislativas de '91 surge aquela que viria a ser a mascote do PSR, a OVELHA NEGRA! Uma ovelha simpática, tipo BD, que que apelava a fugir ao rebanho, há lá melhor forma de cativar os jovens?!
Havia ainda o jornal COMBATE, que a malta lia com a mesma devoção do BLITZ. As reuniões a que assisti eram encontros, nem diria informais, mas caóticos. Era muita hormona no ar, muita criatividade a brotar, um brainstorming difícil de acompanhar. Havia sobretudo empenhamento e um ideal por um mundo melhor.
Lembro-me bem a 1ª vez que votei. Andava desejando aquele dia que parecia não chegar e, com um misto de sentido de responsabilidade cívica e imensa alegria, lá depositei o papelinho dobrado em quatro.

O PSR enquanto partido diluiu-se na criação do Bloco de Esquerda, assim como o Política XXI. Mas eis que, surpresa!, não morreu. Trnsformou-se em Associação Politica Socialista Revolucionária, que congrega militantes do Bloco de Esquerda. A revista COMBATE pode agora ser descarregada em versão PDF no site http://combate.info/

Neste mesmo site descobri ainda esta pérola, que não resisto a postar aqui, isso mesmo, uma "Escola de Formação Marxista". Gostava de ser mosca para poder ir lá espreitar a juventude que discutirá, nestes dias que correm, a Guerra Civil Espanhola e a actualidade do Che.

Mas fiquei contente, juro que fiquei. Sinto hoje a malta amorfa, a maioria sem qualquer tipo de espírito de intervenção política, agarrados às consolas video, aos telemóveis última geração, ao messenger, entretidos com bulling e a bater em professores. O que é feito de acreditar num ideal, numa utopia?

Não gosto nada de rótulos e, como tal, nunca achei importante rotular-me politicamente. Outro dia, em conversa com alguém mais sabedor nestas matérias, escutei um "ah, és como eu, és liberal". Fiquei a pensar nisso e depois desta curta investigação às reminiscências do meu acordar para a política, acho que descobri. Sou não conformista. Não me conformo com o estado das coisas, não me revejo em nenhum partido, discordo em grande ou menor parte, de todos eles. E penso que este legado me foi deixado pela simpática ovelha negra, que apesar de tudo, teimo em continuar a ser...

3.26.2008

Tenho andado a ouvir isto...



THE WOMBATS - LOST IN THE POST

Finalmente!

Conceito de "ilha sustentável" em estudo
Investigadores portugueses e do MIT-Portugal vão estudar a utilização de novas tecnologias energéticas nos Açores e Madeira que tornem viáveis o conceito de "ilha sustentável", adiantou à agência Lusa o secretário de Estado da Ciência e Tecnologia.
Em declarações à Lusa, Manuel Heitor explicou que para o efeito serão assinados protocolos entre o MIT-Portugal, universidades portuguesas e as agências regionais de Energia e Ambiente das regiões autónomas dos Açores (ARENA) e da Madeira (AREAM), no âmbito da Conferência Europeia do Massachussets Institute of Techonology (MIT), que se inicia quarta-feira pela primeira vez em Portugal. "Estes protocolos têm como objectivo o estudo e o desenvolvimento do conceito de 'ilha sustentável', com a utilização de novas tecnologias energéticas em ambientes insulares, com dependência energética crítica", disse Manuel Heitor. Segundo o secretário de Estado, "o MIT-Portugal e as agências regionais vão estudar a possibilidade de valorização de recursos energéticos endógenos que garantam que as ilhas em geral, e os Açores e a Madeira em especial, se tornem sustentáveis" do ponto de vista do seu consumo de energia.
Lusa / AO online Regional 2008-03-24 17:53


Fiquei verdadeiramente feliz ao ler esta notícia ontem, como há já muito não me acontecia ao folhear um jornal. Venho andando com esta ideia na cabeça, tanto se fala de energias renováveis, que uma ilha é, seguramente, o local ideal para se testar esta questão da sustentabilidade energética. Ideal porque de limites geográficos precisos, número de habitantes relativamente controlável e necessidades energéticas simples de serem quantificadas.
Aqui está uma área na qual os Açores poderiam tentar especializar-se, aproveitando ainda a estreita relação com os EUA e Canadá para estabelecer protocolos. Para além do paradoxo que é vender turismo de natureza ao mesmo tempo que não se a protege, todos ganhariam se os Açores se conseguissem colocar na linha da frente nesta matéria. Fazer assentar o crescimento económico sobre o turismo é perigoso, tenderá à massificação e devemos aprender com os erros dos outros, leia-se aqui, da Madeira.
Não vale a pena fingirmo-nos de avestruzes, o petróleo há-de mesmo acabar, o clima está mudando, o Homem continua a lixar este planeta. Quantas verdades inconvenientes teremos de ouvir até perceber que o futuro está (e só haverá) se investirmos em mudar comportamentos, mentalidades e promovermos "cabecinhas pensadoras" a investigar soluções alternativas?

Infelizmente o artigo menciona apenas o governo da república, ficamos sem saber qual a posição que o Governo Regional tem sobre esta matéria ou se vai deixar-se ficar quieto enquanto outros tratam dos seus problemas, o que equivale, neste caso, a deixar passar uma oportunidade de ouro...

3.18.2008

por outras retinas


Photo by Humberto Machado


3.03.2008

marcha lenta



Que responder à pergunta “então como estás?”. Tenho a quem, educada, respondo maquinalmente “bem, muito obrigado” ou variante. Mas volta e meia quem me interroga quer mesmo saber como me sinto. E não sei que dizer. Os amigos são poucos e para poupar, remeto-me a um “estou bem, estou bem” ao qual não consigo acrescentar entusiasmo. O entusiasmo esse, tem andado frequentemente fora da ordem do dia. Dos dias. Que se fundem e confundem, dia, noite, terça, quinta. Ando com a alma às avessas. Ando fugida, como o diabo da cruz, do peso do meu mundo pequenino, que me persegue tentando empoleirar-se-me nos ombros. Não consigo ver a metade cheia do copo, nem sede tenho. Estou a secar. E andei tanto para aqui chegar, finalmente liberta de paixões compulsivas, para descobrir, afinal, que é isso que me move, que despida sucumbo à inércia? Cada passo pesa mais e estatelo-me. Forço-me a levantar sempre, uma e outra vez. Em frente, camarada, em frente!