11.28.2008

alta credibilidade



O cargo de Conselheiro de Estado nomeado directamente pelo Presidente da República é muito delicado. Ao contrário dos conselheiros cujo lugar é uma inerência do cargo que ocupam (caso dos líderes dos principais partidos), esta é uma individualidade escolhida a dedo, supostamente pelos seus conhecimentos elevadíssimos em matéria de estado, alguém da máxima confiança do PR, com espinha vertebrada, sentido de dever cívico e muitos mais predicados. Numa palavra: impoluto. Caso contrário isso poderá virar-se contra o próprio Presidente.
Posto isto, a conduta correcta por parte de Dias Loureiro, ao tomar conhecimento dos zum zuns de aldrabices de alta finança no banco ao qual estava ligado e de ter ido fazer queixinhas ao Banco de Portugal, teria sido demitir-se. Talvez isto soe a beatice tacanha, para mim é honestidade. A mesma honestidade que é exigida a um conselheiro.
Daí que, ou Loureiro achou que isto nunca viria a lume e como tal estava safo, ou, tendo-se sabido, deveria ter resignado ao cargo de imediato, de modo a proteger o PR, e afirmar isso mesmo. A isto eu chamo lealdade. E não o incriminaria tacitamente por essa atitude.
Ora o que aconteceu foi exactamente o contrário. A prova de lealdade quem a demonstrou foi, uma vez mais, Cavaco Silva, saindo em defesa do seu conselheiro e salvaguardando-se a si mesmo. Essa necessidade foi não só infeliz como decididamente escusada. A coisa não deveria ter ido tão longe, bastaria que Loureiro não tivesse deixado.
As manobras que parecem querer denegrir o PR são difamatórias, muito reles e nesta história desconfio que não estará o PS isento de culpas, mas enfim…
É por acreditar que existem, algures, políticos honestos, que separar águas é absolutamente necessário. O desculpabilizar sistemático, o não assumir de responsabilidades (não necessariamente culpas) é que leva ao descrédito da classe.
A coisa piora quando avaliamos a imunidade que o cargo de conselheiro confere. É à prova de bala. Mesmo que haja investigação (e parece que está em curso) e que o nome de Dias Loureiro surja pelo caminho, não poderá sequer ser chamado a prestar depoimento, muito menos ser indiciado. Se permanecer no cargo é intocável. Claro que isso seria ultrajante. Algo semelhante a Berlusconni. Mas já nem digo nada.

obrigada Nuno, por me fazeres rir

Nesta altura de pouco guito é bom poder acreditar que ir de Campo de Ourique à Estefânia já é fazer um safari.

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Boas novas para o Parque Mayer

O gabinete de arquitectos Aires Mateus & Associados Lda ficou em primeiro lugar no concurso de ideias para a requalificação do Parque Mayer, com uma classificação de 100 por cento.

A articulação entre o Parque Mayer e a área envolvente, a qualidade do desenho e a articulação entre o Parque Mayer, a Faculdade de Ciências e o Jardim Botânico foram, segundo Nuno Portas, três dos critérios de avaliação dos projectos.

O projecto elaborado contempla a dinamização do Parque Mayer, salvaguarda o Jardim Botânico promovendo uma articulação entre a zona alta e a zona baixa da cidade, partindo de uma praça central, que é a praça do Capitólio, promovendo a sua ligação ao parque Mayer, à Praça da Alegria e Rua da escola Politécnica, nomeadamente à Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Jardim Botânico.

No Parque Mayer prevê-se a criação de espaços de animação, nomeadamente ao nível das artes cénicas, musicais e artes plásticas bem como a criação de residências temporárias para artistas e de escolas informais que fomentem o ensino artístico e que além de contribuirem para a animação do espaço poderão ainda fazer com que seja auto-sustentável do ponto de vista financeiro.

Diário Digital / Lusa





Aqui está um excelente projecto. Bem pensado e tal e quê, até ganha o concurso com nota máxima. De se lhe tirar o chapéu, curvar a espinha e dar os parabéns.

o peido, esse injustiçado!

Esta do Rogério da Costa Pereira vale mesmo a pena. Nem que seja pela bufa.

O peido é para ser dado. Foi criado para ser expelido com estrépito. O peido é um instrumento regulador da racionalidade humana. Sem o peido vão-se acumulando no organismo correntes de ar e humores que cumpria serem expelidos. E o corpo vai inchando e os ditos ventos vão ocupando partes do organismo que deviam estar ocupadas por cenas mais importantes, tipo cérebro. Aliás, não é à toa que vento, para além do mais, pode significar quer vaidade, quer flatulência.


via jugular

11.27.2008

sistema bancário para crianças

Este filmezinho é verdadeiramente pedagógico.

(via garganta funda da caixa de comentários do :ilhas)

11.26.2008

baixa da memória

Quando eu era pequenina, morávamos ali entalados entre a Baixa e o Castelo, ao Largo do Caldas, na mesma casa onde a minha mãe se fez mulher. Frequentei até à 3ª classe a antiga escola feminina nº 28, na Rua da Madalena. Era um prédio, não tinha recreio ao ar livre e as funcionárias desdobravam-se a organizar actividades em grupo para não se gerar o caos. Jogávamos ao lenço e à mensagem, numa escola sem condições, meninos ricos e meninos pobres, filhos das peixeiras das bancas do mercado do Caldas e filhos de advogados. Filhos da Revolução.
Ia pela mão à Igreja de Sto. António, vi o papa quando veio à Sé e estava na Praça da Figueira, à espera de ouvir o meu primeiro comício, quando se soube do acidente de Sá Carneiro. Tinha cinco anos e não sabia o que era a morte. Vi-a pela primeira vez nos olhos assustados do povo na rua.
O meu avô ourives tinha uma pequena oficina num 3º andar da Rua dos Fanqueiros. Passei muitas tardes de férias empoleirada num banco, a vê-lo trabalhar com minúcia, enquanto me explicava das ligas e das pedras preciosas. Não me ficou o gosto por jóias.
Havia uma loja em Alfama onde se escolhiam galinhas e coelhos vivos. Os bichos iam pelo cachaço, lá para dentro, voltavam num saco. Ainda hoje não como coelho mas pélo-me por uma boa canja.
Às vezes íamos ao hospital das bonecas, na Praça da Figueira, não para tratar das minhas Nancys (que eram bem estimadas), mas porque na mesma loja se arranjava malhas nas meias de vidro das senhoras. Íamos às compras ao Celeiro, à Polux e aos armazéns Ramiro & Leão. Esse era o meu passeio favorito porque brincava aos elevadores com o ascensorista. Muito composta, cumprimentava as senhoras, perguntava o andar, só não podia mexer nos botões. Lá em cima, escolhiam-se peças a metro para ir pôr na modista, a fazer os figurinos da Loja das Meias.
No princípio de Dezembro a tradição mandava ir ver as luzes e as montras. De nariz colado ao vidro, deliciava-me com as construções de Legos em movimento e sabia bem que o Pai Natal estava muito atento a essas incursões, porque acertava sempre com os meus pedidos.
Estava em Ponta Delgada no Agosto em que Lisboa ardeu. Chorei copiosamente. Os armazéns do Chiado e as lojas Garrett são incontornáveis no meu imaginário de infância e essa perda que o televisor mostrava soou a nova morte, depois de Sá Carneiro, da avó Virgínia e do avô Severiano. Tem graça, há quanto tempo não lhes escrevia o nome…
Porque me havia de dar para isto agora? Talvez seja contágio dos posts da Fernanda Câncio, que regularmente versam políticas e práticas na Baixa e os seus pequenos quotidianos.
Apeteceu-me lembrar da menina que eu ali já fui.
E fui tão feliz e nem sabia.
Nessa Baixa que dizem não ter condições para se criarem crianças felizes.
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11.25.2008

sem filtros

e nada de photoshop. impossível não amar esta terra.


areal de sta. bárbara, s.miguel

11.24.2008

meus ricos meninos...

Superaram as minhas expectativas, que eram altas, nesta primeira performance.
Saiu-me do pêlo e é preciso não repousar sobre os louros, continuar o bom trabalho, mas tirei o serão para me deliciar com a pauta deste módulo...

11.22.2008

wanna dance?

The Juan Maclean - Simple Life (Marcus Worgull Remix)


LCD Soundsystem - Someone Great


M.I.A. - Paper Planes (DFA Remix) (MIA ft. Diplo)

11.21.2008

fica-lhe tão bem a pele

Ontem, a ver a quadratura do círculo, gostei do Pacheco Pereiro a fazer de D. Quixote. Como se costuma dizer em teatro "ele foi muito bem". Para começar é notório que se preparou para o papel, em termos de aparência física. Está lá o bigode farto e o cabelo grisalho compridote, mesmo a pedir para se lhe pôr o chapéu em cima. Quanto aos bastos quilos a mais, presumo que seja para encorporar duas personagens numa: D. Quixote com a pança do Sancho Pança e já se poupa um artista.
A peça é uma adaptação do intemporal clássico, desta feita substituiram-se os moínhos de vento pela vapores governativos e a sua dama dá pelo nome de Manuela Ferreira Leite. No Acto I, Pacheco Pereira vem defender a honra da nobre donzela, contextualizando as suas últimas declarações, não como um ataque à democracia, mas ao governo. O problema é que ninguém percebeu a refinadíssima ironia da senhora e, pelas mãos sempre maquiavélicas dos jornalistas, o feitiço virou-se à feiticeira. Pois é. Ela também já tinha dito que não podia ser a comunicação social a escolher a mensagem que passam. Que tal a ironia nesta vaga alusão a um lápis censório na redacção dos jornais e telejornais? O problema é que tradicionalmente somos povo mais dado ao fado do que à piada. Portugal não percebe a ironia fleumática de MFL. Ela ia mesmo bem era com os Monty Phyton...

o monstro da avaliação

Pretender avaliar os professores sem ter em conta os resultados dos alunos parece-me uma falácia. Então não é para isso que eles lá estão, para ensinar? Como se pode avaliar da eficiência sem ter em conta os objectivos?
Dizem uns que isso iria falsear as notas porque os professores iriam empolar os resultados dos meninos para não saírem prejudicados. Isso é partir do princípio da mediocridade. Na génese do problema está a ausência de cultura pela excelência no ensino. E disto não é justo culpar os professores, com consecutivos governos levaram a cabo consecutivas reformas, nunca concluídas, cujos resultados nunca chegaram a ver a luz do dia. Sistemas de colocação esquizofrénicos que obrigavam os professores a andarem com a casa às costas todos os anos. Foi-lhe retirada toda a autoridade. São mal pagos. E percebem desde cedo, quando ainda têm força na guelra e pretensão a serem bons, que isso de nada lhes vale. Não é premiado o esforço e o empenho dos docentes. A coisa é ir levando os anos lectivos na mornaça, rezando para ficar numa escola mais ou menos, com turmas boazinhas e ter poucas dores de cabeça.
A progressão automática na carreira é um belzebu que nivela todos por baixo. Claro que esperar que uma classe aceite de bom grado passar de uma situação tão confortável para outra onde têm de apresentar resultados nunca vai ser pacífica. Já nem falo do presente sistema de avaliação, que enfermará de erros grosseiros, de outro modo não vinha a ministra apresentar alterações. Mas contestação haverá sempre.

11.17.2008

estados alterosos de consciência

Há coisas ou pessoas que podem ser um herpes na nossa vida.
Aquilo parece que passa, mas diz que volta.

11.14.2008

espaço à cOultura

(o serviço público na responsabilidade inerente ao uso de uma plataforma interactiva)



"Este blogue está por detrás dum projecto de fanzine a implementar nos Açores e que terá uma edição em suporte convencional e outra on line. Pretendemos com esta publicação intervir socialmente através da arte, quer pela divulgação do trabalho de diversos artistas locais ou não, quer pela inclusão de peças jornalísticas que acharmos poderem enquadrar-se no espírito deste projecto."

Uma óptima iniciativa, congeminada pelo sempre fervilhante Mário Roberto.

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11.13.2008

and now for something really shallow

Fazendo uso da plataforma interactiva, divulgue-se:

Dizem-me, por mail, que este foi votado o homem mais bonito do mundo. A sua graça é Saki Rouva.
Quem sou eu para discordar?...
















































Declaração de Voto


Eu nem sou especialmente pelos homens bonitos.

antes muda...

Enquanto ontem me empenhava em lides domésticas, a televisão debitava um noticiário da rtpN. Estaquei, um par de meias por dobrar nas mãos, com as declarações de Manuela Ferreira Leite no colóquio "Portugal em crise, que alternativa". Muito gostava eu de ter gravado as pérolas. Como não o fiz e também não consigo arranjar as ditas ipsis verbis na net, aqui ficam tal como as lembro, ressalvando que as vírgulas não estão, com certeza, no seu original lugar, mas o sentido está.
Relativamente à educação, pergunta ela qualquer coisa do género "não haverá outro método de avaliação? olhemos para a Europa, se calhar os métodos até podem ser piores, não sei, porque não experimentamos?"
Sobre a crise "eu não tenho ainda soluções para a crise em Portugal, mas digo-lhe já que se as soubesse não as dizia, pois o tempo que ainda falta para as eleições, o PS ia implementar as nossas propostas todas, como anda a fazer".

Há coisas fantásticas, não há?

11.12.2008

Especial Informativo (a emissão segue dentro de momentos)

Confirma-se a notícia avançada à hora de almoço, pela correspondente na blogosfera, de que o canto teve hoje direito a publicidade institucional. Esta vossa criada tem de passar a lavar mais vezes os cantos ao canto, pois as visitas correm o risco de se acotovelarem. As bichas já são mais que muitas. Prevê-se que venham a surgir questiúnculas laborais, com Olívia empregada lamuriando-se a Olívia patroa que os dias não estão para trabalho pro bono.
Segundo fontes próximas, o sindicato ameaça boicotar a solução apresentada pelo CEO deste blog, que passa pelo recurso a horas extraordinárias e um reforço da mão-de-obra decorrente da desmultiplicação de personalidade.
O objectivo para o próximo trimestre, no comunicado avançado, é de que o blog passe ser gerido, em tempo real, a partir do Laboratório Espacial Europeu. A colocação de um homem em Vénus não está, para já, descartada e já tem punch line: “este é um pequeno passo para o Homem, mas um grande passo para a Masculinidade”.

11.06.2008

Era bom mas acabou-se

Encerraram as únicas salas da ilha onde iam aparecendo filmes de qualidade. O problema nem é local, porque o cinema está em crise. Os estúdios já vão contando mais com lucros de comercialização de DVD's e merchandizing do que com receitas de bilheteira.
Ver filmes em casa tem todas as comodidades e zero de mística. Carregamos no play quando nos apetece, enroscados no sofá ou estirados na cama, paramos quando queremos, pomos o volume que desejamos... e a mim sucede-me raramente querer esse comodismo todo.
Contam-se pelos dedos de uma mão os DVD's que possuo.
Volta e meia trago uns quantos emprestados que devolvo semanas mais tarde sem ter visionado. Paradoxalmente, vejo alguns que passam na televisão, quando os apanho assim de raspão, a meio do zapping.
Concluo que há coisas em que prefiro não ter o poder, a decisão, o comodismo e a antecipação. Ir ao cinema é um acto social, mesmo que o façamos sozinhos. Há uma hora de começo, um lugar onde sentar, o silêncio a respeitar e não se pode fumar.
Mas é que o mesmo filme não sabe ao mesmo. Eu gosto do sabor que me fica em grande ecrã. Não há plasma, LCD, HD, 16:9 que me convençam.
Agora tenho de me deixar de manias. Argh...

11.05.2008

"tomada" a Pennsylvania, a vitória já cá canta!!!


Volto já para a caminha, mas isto até me estava a fazer comichão. Tinha de vir aqui postar umas palavras poucas. Para a posteridade.
Hoje fez-se história.
God bless America!!

11.04.2008

e enquanto o mundo aguarda

Faltam apenas umas horitas para se acabar o suspense. O mundo, envolto no caos económico e em guerras várias, vira os olhos para a América. O movimento de esperança e fé na mudança, que a máquina de Obama magistralmente orquestrou, colheu frutos que brotaram até fora de portas. Ele é a aposta da Europa. Um herói em África. A Obama-mania à escala global. Suponho que não há país que não desejasse ter o seu Obama, negro e tudo.
Esperemos que o comum americano tenha a noção da responsabilidade que lhe cai nos ombros. Porque não deixa de ser impressionante como a América é capaz de nos surpreender pela negativa. Há oito anos nunca pensei ser possível que Bush ganhasse a Al Gore, ainda por cima da forma vergonhosa que se viu, com tamanha escandaleira no estado da Flórida. E quatro anos depois, quando já se sabia muito bem o pacóvio tacanho que Bush era... volta a ganhar! Fiquei sem palavras, mas convencida que aquilo era, de facto, um país onde os estúpidos eram a maioria e como tal, bem feita serem governados por um. Só que entretanto andámos todos a chupar com a tonteira.
Que desta vez o povo americano utilize o seu voto para se redimir.