2.16.2009

a brigada dos costumes

Segui com interesse o debate desta noite do Prós & Contras sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não deixam de me surpreender os fantásticos argumentos que o NÂO consegue desencantar. Apenas a título exemplificativo, defender a discriminação positiva dos heterosexuais porque senão seria abrir a porta ao casamento incestuoso e, quiçá, à poligamia. Soberbo. Ah, também tentaram a vitimização da homofobia. Há coisas fantásticas...
Este NÂO representa a fatia da população que põe à frente do livre arbítrio pessoal e responsável, a coscuvilhice e o beatismo. Mais coisa menos coisa os mesmos que votaram NÂO no referendo à IVG e rejeitam agora o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Já aqui falei sobre o assunto mas, no fundo, esta é uma questão em que o nível de tolerância e sentido de justiça da sociedade é testado. E não vejo qual o cataclismo social que poderia advir.

Curiosidades do programa: o SIM teve direito a concluir a emissão. O SIM saiu-se notoriamente melhor. A malta do NÂO conseguiu transmitir argumentos bacocos q.b. A Fernanda Câncio esteve muito bem e sentada na 1ª fila defendeu bravamente a dama que lhe é tão cara (salvo seja).
Há quem estrebuche que a RTP está a soldo deste governo e que isso é particularmente visível no programa em questão. Não sei, portanto, não comento. Mas este correu bem. Só gostava de saber porque não correu antes. As coincidências também são coisas fantásticas...

13 comentários:

Basilisco Enfatizado disse...

Li, respeito e até concordo de uma forma genérica com a tua posição sobre os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Tirando a parte da Fernanda Câncio, que acho que foi infeliz, em ter marcado presença no debate. ´
Quanto à RTP, o problema não é o debate do tema na TV pública como é obvio, é sim a comprometedora presença de Fernanda Câncio no mesmo.
Bem sei que possivelmente não concordarás nem com o modo, nem com a forma, mas o Basilisco Enfatizado também "postou" a sua perspectiva do tema debatido e do programa Prós & Contras, no basiliscoenfatizado.blogspot.com. Uma visão sem dúvida mais egoísta reconheço, mas também menos politizada, não homofóbica. Satírica isto sim.

R disse...

Em resposta ao post de ontem.

1º - Não está em causa a aceitação no quotidiano da HOMOSSEXUALIDADE ou a capacidade de um casal criar um filho.

Isto é, no debate falaram em "liberdade", democracia, Constituição dos Estados Unidos, Estado, escravatura, opressão, dignidade etc e mais.

Ah lá ver. Não são aspectos que se comparem na medida de liberdade, porque a cor e o esclavagismo eram medidas diferentes com aspectos iguais.
Aqui o caso é o inverso, medidas iguais com aspectos diferentes.
Admito que pelo lado do não os argumentos não tenham sido os melhores, pelo facto de haver muito medo de heresia. A meu ver, confundem a aceitação da homossexualidade no dia-a-dia, cargos políticos e profissionais, com o casamento e os seus direitos, que é isso que está em causa.

2º - Sobre a igualdade, creio que se ler sobre o comunismo na Europa de leste, Cuba, Rússia, compreenderá o que lhe digo.
Tentaram criar igualdade onde por natureza é impossível. Aboliram profissões, para criar apenas um. Deu no que deu.

Isto é, está a pegar num facto (homossexualidade) e está a deturpar com a questão de minoria, liberdade, democracia. Que raio, a própria Fernanda Câncio disse que já é legal casarem!
Um homossexual já PODE adoptar.

Mas a questão já não se trata do acesso ao casamento civil enquanto «escritura» jurídica, mas de liberdade de uma minoria oprimida, sem dignidade e que (veja só) pelo meio enfiam a Igreja (que não tem nada que ver) e pior, negam os aspectos culturais e simbólicos do conceito familiar.



«O conceito de família há muito que é mais vasto do que a tradiçãozinha cultural»

Claro que é mais vasto, mas o Estado enquanto garante de poder e a Igreja enquanto contra-poder, devem tentar manter a estrutura social, ou não acha?

A mim não interessa se há gente capaz ou não, homossexuais ou não, animais ou não, que cuidem bem de crianças. Mas uma coisa não anula a outra, porque isto abre portas ao tal relativismo que lhe falei. Porque se aceitam legalizar o casamento entre pares do mesmo sexo, porque não a adopção e porque não outras coisas mais?!
Porque se para vocês um contrato (do ponto de vista jurídico o casamento continua a ser celebrado como um contrato, daí que assine) que tenha restrições é opressivo, então tudo o resto no mundo é opressivo. E sei que sabe que quando a utopia e igualdade andam juntas; DÃO MAU RESULTADO.




Peço só que não confunda liberdade com igualdade. Há vários conceitos de liberdade, e aqui falo de uma forma anglo-saxónica com veia de stuart mill.

R disse...

«Em que medida uma família constituída por dois homossexuais retira dignidade às restantes?»

Mas caramba, PORQUE CONTINUA a falar em homossexualidade?

Entende que está a sobrepôr o interesse do casal ao interesse da criança?!

Não está em questão a dignidade ou não, está em questão o ESTADO!

Dizer-lhe a dignidade ou a felicidade que um menino tem é relativo, não há estudos que comprovem, porque nesse campo os aspectos são efémeros. Entende o que é o relativismo? Acha que o Estado se deve basear em relativismos, ou acha que o Estado deve ser frio e taxativo?
É porque se defende a primeira, no seu caso a LEI não deve punir quem rouba por necessidade.

E não confunda APLICAÇÃO DA LEI (Tribunais) com a LEI! Uma coisa é circunstancial, outra é a LEI enquanto regimento de Estado.

Su disse...

Caro basilisco, se conhecesses um pouquito mais a Fernanda Câncio, para além das revistas de fofocas, saberias que esta é uma questão pela qual se bate há muito, muito tempo! Hipócrisia seria ela não ter marcado presença. E fê-lo, sabendo que seria apontada, por razões que nada têm a ver com a discussão em causa, o que é muito triste...

Su disse...

Viva, Mancha! Boa ideia ter aparecido por aqui, sempre há menos “ruído”.

Bom, é essa igualdade “mais ou menos” que decorre do que você descreve como aceitação no quotidiano, que eu falo. Pior, essa aceitação generalizada por parte da sociedade não acontecerá caso o estado não dê um sinal inequívoco disso mesmo. É o tal “click” que mencionei em comentário anterior no arrastão.

Confunde-me você mencionar o medo de heresia por parte do NÃO. Julgava que os hereges eram os do SIM!!! Mas ainda bem que vê as coisas por esse prisma porque eu, sinceramente, também!
Repare, nunca a argumentação por parte do NÃO será bem construída e inatacável porque assenta em valores culturais que, como se sabe, não são imutáveis. O facto de se vir dizer que “sempre foi assim” não vale coisa nenhuma. Durante séculos houve pena de morte, esclavagismo, subserviência da mulher, adultério e sodomia eram crime, etc. Decerto concordará comigo que ainda bem que a sociedade evoluiu no sentido da sua abolição.

Daí que esta questão seja só mais um degrau no sentido da pluralidade e da tolerância, que são valores pelos quais eu penso que uma sociedade se deve reger, muito mais do que pelo estereotipo de um modelo familiar! Modelo esse que já vimos que acaba por ter múltiplas variantes.
As sociedades evoluem, na medida em que os costumes também evoluem e as realidades se alteram. Cabe ao estado ter uma leitura objectiva e igualitária perante estas alterações, de modo a não termos de viver sob regulações diacrónicas.

Repesco o exemplo do divórcio, que constituí perigo muito maior à estabilidade do modelo familiar que lhe é tão caro. No entanto, não cabe na cabeça dos que apregoam o cataclismo social que o divórcio seja abolido. E a isto eu chamo incoerência.

Basilisco Enfatizado disse...

Eu nunca conheci, nem vi, a Fernanda Câncio em revistas de fofocas.
Como o primeiro pressuposto da questão está errado e é falso, todo o resto não resiste ao mais ténue esboço de contestação. Assim sendo , nada a declarar.

Su disse...

Quanto ao segundo comentário, Mancha, desculpe a franqueza, quem está aqui a relativizar é você. Em que medida se confunde o casamento, enquanto contrato civil celebrado por dois maiores de comum acordo, e a felicidade de uma criança? Um casamento implica ou obriga a que hajam crianças? E em que medida a felicidade de uma criança depende da existência de um agregado familiar composto por pai e mãe? Acha que um casamento destruído, onde não existe mais amor entre o casal e as discussões são constantes, melhor para o desenvolvimento psico-afectivo de uma criança do que a família se desmembrar, ganhando a criança em paz, mas perdendo a presença diária de um dos progenitores?

Em segundo lugar, existem muitas crianças geradas e/ou adoptadas por homossexuais.
A Fernanda nunca disse que já era legal casarem, mas sim que a adopção individual por parte de homossexuais existe. Por acaso fiquei com curiosidade, e andei à procura do modelo de inquérito pessoal para a adopção. Não existe qualquer questão relativamente à orientação sexual. O que é um bom princípio.
O estado, sob o garante do superior bem estar da criança, concluiu que era melhor uma criança ter um pai ou uma mãe do que não ter nenhum e continuar institucionalizada. Isto a meu ver faz sentido. O que eu não percebo é porque é que esta realidade, quando multiplicada por 2, faz tanta confusão a tanta gente!

Sabe, eu acarinho as utopias. E a igualdade. “O progresso não é senão e realização das utopias” segundo Oscar Wilde. Acredito que sim.

Su disse...

Basilisco, explica lá então porque foi comprometedora a presença da Fernanda Câncio no programa. Tou curiosa...

R disse...

«estereotipo de um modelo familiar! Modelo esse que já vimos que acaba por ter múltiplas variantes.»

Então, nesse caso devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais, no actual regime; união de facto.

Sim, os homossexuais podem "casar-se" (era sarcasmo), podem estar em regime de união de facto. O Estado já os reconhece, mas, nas uniões de factos os direitos são limitados (propriedade, bens, etc).

Se acha que é uma questão de liberdade, não ficam à frente de ninguém e a poligamia (muito comum em vários países) deve ser legalizada e aceite pelo Estado. Idem a poliandria.

Ora, o que está em jogo são interesses e não é a "liberdade" ou a dignidade como fazem bandeira.
Há um certo estigma, é notório, mas não se deve ao "catolicismo" nem ao atraso da sociedade. Há Estados na América que tornam ainda maior esse feudalismo em relação aos Homossexuais, portanto.


Agora, repare como leva o debate. 1º - juridicamente 2º- através de retórica 3º- exemplos de circunstância.

Em todos o Não é maioritário.

Em questão de liberdade, tenho de lhe dizer que me exaspera profundamente a conversa da liberdade e da tolerância, ao compararem coisas totalmente distintas em épocas distintas (escravatura) com a liberdade de uma minoria. Aliás, a leviandade do argumento do sim é baseada no ataque à Igreja, à censura, ao conservadorismo e por aí fora.

Acha que uma criança que nasça (congénito neste caso) sem mãos, tem POR INERÊNCIA a mesma liberdade que uma pessoa com mãos?

Não é porque não se queira ser tolerante, é porque é a natureza das coisas.

Imagine que numa sociedade começam a nascer crianças sem mãos, mas a instrumentalização e avanço da mesma, funcionam à base das mãos. Foi legislado para os que funcionam com mãos (não por ser maioria), mas porque o materialismo prático funciona (adivinhe) COM MÃOS.

Troque as mãos pelo sexo e pronto.

Acha conservador ter uma opinião destas? vai desculpar-me SU, ninguém defende a pena capital aos homossexuais, mereciam um pouco mais de abertura social e actualmente podem ainda ter mais un benefícios no quadro da união de facto, mas com conversa de tolerância e liberdade ao estilo Manuel Alegre, por favor....

Basilisco Enfatizado disse...

Com o Sr. Primeiro Ministro praticamente em campanha e atafulhado nas mil e uma trapalhadas, em que diariamente se vê alegadamente envolvido( algumas em investigação e segredo de justiça ). Sabendo que estas trapalhadas afectam e de que maneira, o índice de confiança dos portugueses nele. Sabendo também, da pressão e do controlo que o Governo exerce na Direcção de Informação da RTP, seria bom para nós e principalmente para ele( José Sócrates), a Fernanda Câncio manter-se mais recatada. Recatada, não nas opiniões e convicções , que tem toda a legitimidade em tê-las e expressá-las, como todos nós, o que aliás tem feito, até com certo brio neste caso particular. Recatada sim, na escolha dos orgãos de informação e no timing em que pretende expressá-las. Parece ao telespectador médio estranho, que no programa de informação principal e com mais audiência da televisão estatal de serviço público, o facto de ser a jornalista namorada do Primeiro Ministro, uma das convidadas, onde manifestou fervorosa defesa numa das primeiras promessas eleitorais de José Sócrates,(a discussão do casamento entre pessoas do mesmo sexo) e empenho no debate do ainda "polémico" tema.
O que parece , e o que parece, nem sempre é, é que quem fala, quem tem tempo de antena é criteriosamente escolhido, não raras vezes por critérios pouco nítidos.
No estado em que José Sócrates se encontra actualmente, fica sempre a duvida se Fernanda Câncio estava no programa, na defesa da causa em si,( do casamento entre pessoas do mesmo sexo ), ou em defesa e salvação do homem político que é José Sócrates.
Não basta à mulher de Cesar ser séria, é preciso parecê-lo.
Isto sem demérito da competência e do papel importante que Fernanda Câncio, tem tido na chamada de atenção para a causa.

Su disse...

Caro basilisco, a Fernanda nunca assumiu ser namorada do nosso PM.
Para mim é muito mais defensável ela ter optado por participar num programa cujo tema defende há anos de forma extremamente aguerrida. O fácil era esconder-se. Mas nestas coisas é sempre preso por ter cão e preso por não ter...
Pessoalmente estou-me nas tintas para o aproveitamento politico desta questão por parte de Sócrates. É algo que importa mudar, não interessa através de que esquema político. os meios justificam, neste caso, o fim.

Su disse...

Mancha, não tenho agora tempo nem bateria no pc suficiente para lhe responder como gostaria.
Engraçado ir buscar o Alegre, figura que muito prezo.
Sabe, as coisas raramente são a preto e branco, há uma quantidade infinita de cinzentos... Daí que o relativismo que mencionou várias vezes seja, de facto, algo sempre muito presente. E, a meu ver, ainda bem.

Quanto à designação da "união civil" entre homossexuais, noutro post sugeri disparates como "gaysamento" ou "lesbitrimónio". Apesar do "vrrrnhec" dos gato fedorento ser mesmo o meu preferido!

(Re)Pensar os pilares da nossa sociedade é importante, mas não num momento, e apenas quando, a conversa não está a interessar à maioria (que é heterossexual). Não estão em causa redução de liberdades ou direitos adquiridos de ninguém, unicamente alargar o âmbito de aplicação dos mesmos. Se nesta recusa não vê uma posição arrogante, dogmática e discriminatória... não sei o que lhe diga. Olhe, faz-me mesmo muita confusão.

Um excelente fim de semana para si!

Basilisco Enfatizado disse...

São "(opni)ões". Todos nós temos as nossas "(opni)ões". E ainda bem que temos. É um belíssimo sinal.