2.18.2008

Palavras sábias de um arquitecto

Excertos da entrevista a José Mateus publicada na + arquitectura deste mês.

A arquitectura é uma profissão extraordinária porque nos permite desenhar algo que passa a pertencer ao imaginário e cultura colectivos. Essa nossa capacidade de deixar marcas profundas, claras – por vezes perversas...- na sociedade da qual fazemos parte é um privilégio superior. Um privilégio e uma grande responsabilidade.

Para mim, tão importante como o desenho é a ferramenta da pergunta, da dúvida, do saber ver e do saber não ter preconceitos. Quando desenhamos muito bem, pode até tornar-se traiçoeiro. Uma imagem com grande poder de sedução pode exercer um fascínio que nos inibe a capacidade de abdicar dela e passar a outra experiência. Paradoxalmente, o desenho pode chegar a ser contraproducente.

Na ARX não temos, nem nos interessa de todo, uma arquitectura que siga uma lógica muito contínua. Interessa-nos, em cada projecto, tirar imenso prazer de todo o processo, experimentar, fazer algo tão estimulante quanto a nossa capacidade nos permita atingir.

Vivemos um tempo de mudanças a um ritmo vertiginoso. Vivemos o tempo da mobilidade, da fragmentação e da comunicação. Se recuarmos ao período do Barroco, ou do Renascimento, os códigos de composição eram claros, estabelecidos e o desafio do arquitecto passava muito por saber manejar esses códigos. Hoje cada arquitecto tem de formular os seus códigos. Têm de sair das suas “entranhas” e têm de ser pessoais.
(...) Diria que vivemos num tempo quase de caos e de uma espécie de babel de códigos de composição arquitectónica. Abre-se um espaço de grande liberdade que significa também grandes dificuldades.

(A matéria) é um dos vocábulos possíveis para compor o meu texto que é a arquitectura.


O arquitecto deve pensar. Sobre as coisas, a vida, as pessoas e o mundo. José Mateus fá-lo de forma exemplar, num discurso límpido e lúcido como poucos. Coerente nas suas falas e nos seus projectos, recusa repetir as metodologias de sucesso que alcança. Verifico, com espanto, que cada coisa que faz é melhor e sempre diferente, da anterior. A contínua curiosidade, espírito de descoberta e inconformismo fazem a arquitectura andar em frente. E o mundo também. Este homem é um mestre e eu bebi destas suas palavras, que sede que tinha! Ficam aqui, guardadas no meu canto, para vir até elas sempre que me apetecer acomodar.

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