
Intriga-me a quantidade de
estudos sobre a
"química do amor", que
buscam os mecanismos
bioquímicos que determinam os diversos estágios do amor.
Parece-me altamente provável que certos acontecimentos possam ser predeterminados pelos níveis hormonais, por exemplo. E que a sensação de "borboletas na barriga" tenha explicação científica, não obstante ser uma experiência transcendente, que põe o mais céptico a pensar em setas com coraçõezinhos. Mas fiquei a matutar sobre
este artigo na
Nature, que abre portas à possibilidade de se desenvolverem fármacos capazes de provocar sentimentos de amor ou desamor.
Mais do na sua viabilidade, fiquei a pensar nas consequências que poderiam advir. Assim de repente, a haver um comprimido aprovado pela FDA para curar males de amor, trato já da receita porque é maleita crónica de que padeço. Por outro lado, áqueles meus amigos tão compatíveis, só me apetece pôr-lhes qualquer coisa no chá a ver se dá faísca. O Sto. António também agradeceria uma folga das promessas das beatas e as bruxas podiam-se dedicar a causas ambientais, sabem os Deuses que precisamos de toda a ajuda que conseguirmos...
Concedo que a existência de um elíxir do amor poderia facilitar muitas coisas. Melhor do que a Prozac, seria ter o povo todo apaixonado, isso é que fazia um país feliz!
Já o inverso seria desastroso. Sofrer por amor faz crescer, é parte integrante no processo de auto-conhecimento e de amadurecimento emocional. Resolver as rejeições com um comprimido, em poucas gerações nos levaria de volta às cavernas. Somos hoje formatados para a gratificação imediata, para o entorpecimento crítico, para a futilidade inebriante, para a massificação consumista, balizados pela cadência frenética dos dias que se sucedem. Quando, se não na fossa, nos paramos a questionar? Quem somos, da importância do que fazemos, do que sonhamos, para onde desejamos ir e com quem. Ali, com o coração desfeito, se abre uma imagem da nossa essência humana, sem bengalas e despida das costumeiras máscaras. Perde-se esse pudor e a compostura, na solidão árida que é a descoberta da nossa gema.
Venham as panaceias de oxitocina, serotonina, dopamina mais os feromônios, não tarda seremos robots. Comodamente felizes e mimados.
Desconhecedores de nós próprios.