5.05.2008

ando a ler e recomendo...

Gosto que me ofereçam livros. É verdade que adoro livros, mas muitas vezes dão-me ataques de forretice. Ora uma coisa boa de ter bons amigos é que sabem do que eu gosto e fazem-me a vontade... Este título foi assim uma oferta, coisa de amigo com bom gosto e constituiu uma verdadeira descoberta, muitíssimo agradável. Ao primeiro olhar perguntei "mas quem é Ismaïl Kadaré?"

Ismaïl Kadaré nasceu em 1936 na Albânia, em 2005 a sua carreira literária foi distinguida com o primeiro Man Booker International Prize.
Nas primeiras páginas ficamos a saber, sob nota do tradutor francês, que este livro é na realidade a compilação de 2 textos, uma sequela com cerca de 20 anos de diferença. Ficamos igualmente a saber da dificuldade em fazer sair textos originais do país e que tal era um crime severamente punido sob o jugo do governo comunista que vigorou na Albânia.

Segunda interrogação que me fiz, neste ponto inicial da leitura: que sei eu sobre a Albânia? Quase nada. Mesmo com a guerra do Kosovo, este país está para mim envolto numa névoa de puro desconhecimento. Muito bem, pensei, nada melhor que um bom romance para me despertar a curiosidade.

O que interessa e me moveu a escrever este post, é que devorei, literalmente, o primeiro manuscrito e vou a dois terços do segundo, com vontade que não acabe.
As histórias, na sua singela simplicidade, completam-se de analogias com mitos e histórias antigas, como sejam o sacrificio de Ifigènia pela mão de seu pai, Agamnénon, nas vésperas da partida para o cerco a Tróia, ou de Calvo, que cai no abismo que o leva ao submundo e do sacrificio pessoal com que tentou voltar à superfície, nas costas de uma voraz águia. Pelo meio fica-se com uma ideia da vivência colectiva sob governo comunista, através dos olhos mordazes do protagonista e das histórias dos seus conhecidos, com uma inequivoca base em factos verídicos.

Foi inevitável uma comparação a Kundera, da qual Kadaré, na minha opinião, se sai muito bem. Tanto no registo do essencial, eliminando supérfulas figuras de estilo, como na profundidade com que retrata as personagens, deixando-nos com um quadro perfeito das subtis transformações que sofrem, como pela ambiência claustrofóbica com que decrevem ambos os tentáculos dos regimes comunistas, cuja aplicação dos princípios Marxistas descambaram para a constante vigia sobre o indivíduo, retirando qualquer margem de privacidade e de usufruto da própria vida.

Uma leitura que recomendo vivamente, e que dá que pensar nestes tempos em que tomamos a Democracia por garantida, que igualmente vem degenerando, desta feita, num exacerbado individualismo.

Obrigada, Ricky! ;o)

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