Esta foi a minha
Escola. Para aqui entrar contornei primeiro e enfrentei depois a suprema autoridade paterna. O espírito boémio de que tinha fama não ajudava, os professores já tinham sido melhores, dizia-se que circulava muita droga. Seriam necessários 90 minutos diários em transportes públicos, com 14 anos de idade. E foi uma aventura.
Aqui fiz dos meus melhores amigos, que se mantêm ainda.
Aqui aprendi a não julgar os outros pela sua aparência, por
sui generis que fosse.
Aqui aprendi sobre arte e criatividade, que brotavam pelos cantos sabugos, tal e qual os cogumelos gigantes em
papier mâché que um dia a associação de estudantes resolveu plantar.
Aqui aprendi sobre mim, nos tumultuosos anos de crises existenciais da adolescência.
Aqui vivi o meu primeiro namoro, que aqui acabou igualmente, e que eu acreditei que ser o fim da minha existência, impossível alguém sobreviver com tamanha dor no peito.
Aqui me estreei a baldar algumas aulas para ir aos jardins da Gulbenkian ou ficar no café.
Daqui saí sem que qualquer substância psicoactiva tivesse entrado no meu organismo.
Daqui saímos para nos manifestarmos muitas vezes, contra a PGA, contra a Ferreira Leite, contra o sistema que enviava cargas policiais "dialogar" connosco.
Daqui saí, com muito orgulho. Senti sempre que esta era uma casa diferente, habitada por gente diferente, tão sensível como revoltada, tão calada quanto capaz de gritar a uma só voz.
Ontem, como há 20 anos, este secreto orgulho voltou a encher-me. Que se calem os cotas, a juventude está longe de perdida. Não aqui. Aqui vive-se e sente-se e exprime-se! Um bocado radicais, é certo, mas calados nunca!
GOVERNO FASCISTA É A MORTE DO ARTISTA!